quinta-feira, 22 de maio de 2008

Ai Portugal, Portugal..

Foi hoje divulgado o Relatório Sobre a Situação Social na União Europeia (UE) em 2007, e repete-se o que já se vem sabendo, ano após ano: Portugal é o país com maior desigualdade (onde a repartição de rendimentos apresenta maior disparidade) da União Europeia , ultrapassando mesmo o nível de desigualdade dos Estados Unidos (cujo nível de desigualdade é maior que todos os restantes países europeus).





Um vergonhoso, mas não surpreendente, primeiro lugar nas desigualdades

Sem surpresa, no extremo oposto, ou seja com menos desigualdade na distribuição do rendimento, encontram-se a Suécia e a Dinamarca. Apesar de se constatar que os países com um PIB per capita mais elevado são também os que têm menos desigualdade, o estudo revela que existe um número significativo de pobres em todos os países europeus, estimando-se que mais de 23 milhões de europeus vivem com um rendimento de menos de 10,00€ por dia.

Portugal, que já era o país mais desigual em 2000, não só continuou a sê-lo, como se agravou a desigualdade, tal como medida pela UE (passando de 37(?) para 41 no coeficiente de Gini).

Mau em 2000, pior em 2004...


Portugal continua a ser também um dos países onde uma maior percentagem da população vive com um rendimento muito abaixo da média da UE: 45 % dos portugueses têm um rendimento inferior a 60 % do rendimento médio europeu, 33% dos portugueses têm um rendimento que é metade da média europeia, e 22% dos portugueses vivem com menos de 40 % do rendimento médio europeu.

Estes são dados eloquentes! Não apenas a profunda desigualdade que vivemos hoje, mas sobretudo o facto destes dados confirmarem que a situação não tem melhorado nos últimos anos.


Estes são dados que valem por mil discursos piedosos (o adjectivo hipócrita talvez fosse uma melhor escolha), e que revelam que apesar (ou melhor, em resultado) de todos os discursos de sucessivos governos do chamado "arco governativo" (do PP ao PS), dos fazedores de opinião, e da comunicação social que os difunde repetida e acriticamente, o resultado das políticas nas últimas dezenas de anos é o que se pode designar como "efeito Mateus" (do Evangelho segundo S. Mateus): cada vez mais para quem já é abastado e cada vez menos para quem já tem pouco. As políticas medem-se pelos resultados que produzem e não pelos discursos que as promovem!


Estou certo que um estudo sério (usando os dados disponíveis para as últimas décadas) sobre o fenómeno do rendimento (PIB, salários, poder de compra, etc.) e da desigualdade (social, mas também regional) em Portugal, correlacionando-o com outros factores como a educação (investimento, resultados, nível de escolaridade, etc.), investimento em ciência e tecnologia, percentagem de licenciados, distribuição regional dos investimentos públicos, etc. permitiria revelar a forte relação causal entre as políticas dos governos dos últimos 25 anos e a manutenção ou crescimento das desigualdades em Portugal.


Claro que depois de algum sobressalto sobre mais este relatório durante alguns dias (ou, sendo optimista, algumas semanas), de algumas reacções de "choque" e "vergonha" (dos que agora estão na oposição) e de algumas justificações e promessas dos que estão no governo, a questão será novamente esquecida... Até que o próximo relatório divulgue dados semelhantes, e os mesmos de sempre (dos dirigentes políticos aos comentadores e "opinadores") voltem a verter lágrimas de crocodilo!

Como canta o Jorge Palma, "Ai Portugal, Portugal/De que é que tu estás à espera..."

1 comentário:

nada desta vida disse...

é curioso que quando escuto estas notícas este tema do palma é a banda-sonora-de-fundo-imaginária*

 
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