sexta-feira, 25 de abril de 2008

Congreso da Gaceta Universitaria


Fui convidado pelos organizadores para participar no Congresso anual promovido pela Gaceta Universitaria, um jornal semanal gratuito, do grupo do El Mundo, aparentemente com grande circulação nas universidades espanholas (como me foi confirmado por várias "fontes independentes", e apesar da inexistência de um Website da publicação...).

Participei na sessão sobre a difusão do conhecimento gerado nas Universidades, apresentando uma comunicação sobre a experiência da Universidade do Minho, com o RepositóriUM e o sua política institucional de auto-arquivo. Na sessão estava também prevista a participação, por vídeoconferência, de Stevan Harnad. Infelizmente a tecnologia (no caso a ligação à Internet no local da conferência) pregou-nos uma partida e só tivemos oportunidade de ouvir e ver o Stevan Harnad durante dois breves minutos. Por isso, os restantes slides que iria apresentar foram brevemente resumidos e comentados pelo Ignasi Labastida (da Universidade de Barcelona), que tinha organizado esta sessão e que a presidia, e por mim.

Para além de mais uma "evangelização" sobre as vantagens e exequibilidade do Acesso Livre à literatura científica através da "via verde" (auto-arquivo em repositórios de acesso livre), a participação no Congresso suscitou-me duas reflexões:
1 - Apesar de todos os avanços do Acesso Livre registados nos últimos cinco anos, que são indesmentíveis e provavelmente irreversíveis, ou por causa desses mesmos avanços e do tema ser hoje comentado e abordado em inúmeras instâncias e por diversos meios, é verdadeiramente "espantoso" como continua a existir um grande desconhecimento sobre a questão do Open Access, e como os "inibidores clássicos" continuam a manifestar-se sempre e sempre e sempre : dúvidas ou mitos relacionados com os direitos de autor/copyright, confusão entre acesso a literatura científica e acesso a outros tipos de conteúdos/documentos (como recursos educativos), confusão entre auto-arquivo em repositórios (de artigos já publicados em revistas "respeitáveis") com auto-publicação ou publicação de "segunda classe", etc.

Algumas das perguntas e comentários no final da sessão (e nas conversas posteriores) revelam que a ignorância, as dúvidas e as confusões de hoje são exactamente as mesmas que comecei a constatar em 2003. A minha esperança é que a percentagem dos "esclarecidos" tenha vindo a crescer (a não ser assim, algo estará mal ou com a "mensagem" ou com os "pregadores", como eu próprio).

2 - Ouvi muitas queixas, de investigadores jovens mas corroboradas também por quem olha o fenómeno de fora, que o sistema académico e científico espanhol está "fossilizado", dominado por catedráticos que não realizam investigação relevante, e que publicam pouco, mas que controlam um sistema demasiado endogâmico. Este retrato não me pareceu estranho, porque ele poderia igualmente aplicar-se à ciência e à universidade portuguesa há 10 ou 15 anos (na última década as coisas mudaram em Portugal, há que reconhecê-lo, ainda que subsistam algumas "ilhas de passado" na academia). Mas perante a tonalidade carregada do quadro que me pintaram e o facto do retrato supostamente descrever a situação de hoje, em que a ciência tem de ser cada vez mais competitiva não apenas à escala nacional, mas sobretudo à escala europeia e mundial, não pude deixar de ficar perplexo.

O que concluí, depois de algumas perguntas, é que o sistema científico espanhol está menos dependente de financiamentos internacionais (nomeadamente europeus) do que o sistema português, porque existem verbas significativas para a ciência no orçamento do estado espanhol, e também nos orçamentos das comunidades autónomas. Essa aparente facilidade de obter financiamentos locais e nacionais (um investigador disse-me que lhe queriam oferecer o quarto portátil, num dos programas do governo da região onde trabalha...) pode vir a ter o efeito perverso de diminuir a competitividade, a internacionalização, a capacidade de modernização, inovação e a qualidade da ciência espanhola.

Mas que isto não seja lido como um apoio à manutenção de um nível de financiamento da investigação científica pelo estado português que é claramente insuficiente, quando comparado com os restantes países europeus! A cultura de avaliação externa, de promoção da internacionalização e de reconhecimento da excelência que foi sendo introduzida desde meados dos anos 90 do século passado em Portugal, tem de ser acompanhada por um investimento real na ciência.

Quais foram as promessas da percentagem do PIB nacional que deveria ser consagrado à ciência desde os anos 90? Qual é a percentagem actual?

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