Foi hoje divulgado o Relatório Sobre a Situação Social na União Europeia (UE) em 2007, e repete-se o que já se vem sabendo, ano após ano: Portugal é o país com maior desigualdade (onde a repartição de rendimentos apresenta maior disparidade) da União Europeia , ultrapassando mesmo o nível de desigualdade dos Estados Unidos (cujo nível de desigualdade é maior que todos os restantes países europeus).
Um vergonhoso, mas não surpreendente, primeiro lugar nas desigualdadesSem surpresa, no extremo oposto, ou seja com menos desigualdade na distribuição do rendimento, encontram-se a Suécia e a Dinamarca. Apesar de se constatar que os países com um PIB per capita mais elevado são também os que têm menos desigualdade, o estudo revela que existe um número significativo de pobres em todos os países europeus, estimando-se que mais de 23 milhões de europeus vivem com um rendimento de menos de 10,00€ por dia.
Portugal, que já era o país mais desigual em 2000, não só continuou a sê-lo, como se agravou a desigualdade, tal como medida pela UE (passando de 37(?) para 41 no coeficiente de Gini).
Mau em 2000, pior em 2004...
Portugal continua a ser também um dos países onde uma maior percentagem da população vive com um rendimento muito abaixo da média da UE: 45 % dos portugueses têm um rendimento inferior a 60 % do rendimento médio europeu, 33% dos portugueses têm um rendimento que é metade da média europeia, e 22% dos portugueses vivem com menos de 40 % do rendimento médio europeu.
Estes são dados eloquentes! Não apenas a profunda desigualdade que vivemos hoje, mas sobretudo o facto destes dados confirmarem que a situação não tem melhorado nos últimos anos.
Estes são dados que valem por mil discursos piedosos (o adjectivo hipócrita talvez fosse uma melhor escolha), e que revelam que apesar (ou melhor, em resultado) de todos os discursos de sucessivos governos do chamado "arco governativo" (do PP ao PS), dos fazedores de opinião, e da comunicação social que os difunde repetida e acriticamente, o resultado das políticas nas últimas dezenas de anos é o que se pode designar como "efeito Mateus" (do Evangelho segundo S. Mateus): cada vez mais para quem já é abastado e cada vez menos para quem já tem pouco. As políticas medem-se pelos resultados que produzem e não pelos discursos que as promovem!
Estou certo que um estudo sério (usando os dados disponíveis para as últimas décadas) sobre o fenómeno do rendimento (PIB, salários, poder de compra, etc.) e da desigualdade (social, mas também regional) em Portugal, correlacionando-o com outros factores como a educação (investimento, resultados, nível de escolaridade, etc.), investimento em ciência e tecnologia, percentagem de licenciados, distribuição regional dos investimentos públicos, etc. permitiria revelar a forte relação causal entre as políticas dos governos dos últimos 25 anos e a manutenção ou crescimento das desigualdades em Portugal.
Claro que depois de algum sobressalto sobre mais este relatório durante alguns dias (ou, sendo optimista, algumas semanas), de algumas reacções de "choque" e "vergonha" (dos que agora estão na oposição) e de algumas justificações e promessas dos que estão no governo, a questão será novamente esquecida... Até que o próximo relatório divulgue dados semelhantes, e os mesmos de sempre (dos dirigentes políticos aos comentadores e "opinadores") voltem a verter lágrimas de crocodilo!
Como canta o Jorge Palma, "Ai Portugal, Portugal/De que é que tu estás à espera..."